A história desse computador começa quando a Marinha Brasileira entendeu que tinha uma necessidade: equipar suas fragatas com computadores nacionais, buscando avanço tecnológico e, para tanto, foi preciso abrir uma concorrência. Com a concorrência aberta, a Universidade de Campinas (Unicamp) montou uma boa equipe para desenvolver o projeto e chamou seu plano de Cisne Branco.
A turma da Universidade de São Paulo (USP) reagiu e nomeou seu projeto de Patinho Feio e, contra todas as possibilidades, venceu o contrato. Vale dizer que esse projeto foi acadêmico, por assim dizer, envolvendo alunos, professores, estudantes que estavam em fases como mestrado e doutorado, enfim, uma equipe muito qualificada para o desenvolvimento dessa tecnologia. Apenas a título de curiosidade, há uma segunda história para o nome de “Patinho Feio”. Esse nome teria surgido em alusão ao Navio Veleiro Cisne Branco – uma embarcação, da Marinha do Brasil, que exerce funções diplomáticas e de relações-públicas.
O Patinho Feio foi feito do zero. Ele é composto por uma caixa de cerca de um metro de comprimento, com placas de circuitos feitas de plástico e papelão. Era capaz de imprimir comandos e registrar códigos com uma memória de 4 KB, capacidade quase um milhão de vezes menor que a de um celular atual.
Ele também não possuía telas. Os códigos eram digitados em um teletipo e emitidos em fitas de papel perfuradas com marcações na linguagem binária (0 e 1). Registrado no papel após ser processado pelo computador, o código poderia ser lido diversas vezes pelo teletipo para imprimir o desenho ou o texto que o usuário desejasse.
Quem trabalhou no desenvolvimento da máquina na época lembra que só era possível produzir um computador de pequeno porte. “Mesmo assim, o Patinho era maior do que os computadores utilizados a bordo pela NASA nas expedições da Apollo 11 à Lua”, destaca Lucas Moscato, desenvolvedor do projeto e docente aposentado da POLI-USP.
A inauguração da máquina, no dia 24 de julho de 1972, teve presenças de peso: o governador de São Paulo à época, Laudo Natel, o ex-reitor da USP, Miguel Reale, e o Bispo Dom Ernesto de Paula.
Liderado pelo professor Antônio Hélio Guerra Vieira, o Patinho serviu de base para a produção do G-10, o primeiro computador comercial do País, desenvolvido em parceria pela Poli-USP, Marinha do Brasil e PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro).
O “Patinho Feio” foi um marco fundamental para o país. Além de abrir todo um novo mercado de desenvolvimento, também foi importantíssimo para o desenvolvimento de recursos humanos, especialmente o treinamento de profissionais capazes de ensinar as gerações futuras. Esse computador também é considerado o primeiro a ser documentado e com estrutura de computação clássica desenvolvido no país.
O Patinho Feio tinha apenas 4 kilobytes de armazenamento (um simples disquete tem 360 vezes mais espaço). Não contava com tela, mouse, nem a maioria das funções dos computadores de hoje. Mas serviu para dar início à indústria brasileira de equipamentos digitais.
Como tinha pouca memória, o Patinho Feio rodava apenas pequenos programas de demonstração. Ele seguia instruções para criar listas e copiar textos, além de realizar contas de soma e subtração, por exemplo.
O Patinho Feio era controlado por um painel com botões e chaves liga-desliga que enviavam códigos binários (0 e 1) para rodar pequenos programas.
O dispositivo também usava um sistema de entrada e saída com periféricos, ou seja, aparelhos que ficam conectados à máquina. Nesse projeto, os acessórios serviam para salvar e iniciar programas.
Esses programas eram salvos em fitas perfuradas impressas em teletipo, uma espécie de máquina de escrever que enviava e recebia mensagens por telégrafo. Depois, uma máquina leitora podia ler essas fitas e executar os programas.
Os sistemas financeiros brasileiros eram dos mais avançados no mundo naquela época. Fruto da formação de recursos humanos dessas iniciativas como o Patinho Feio
O que veio depois?
O segundo computador do grupo de engenheiros da USP foi o G10, produzido para a Marinha. Ele serviu de base para o primeiro computador comercial brasileiro, chamado de MC 500 e fabricado pela Cobra (Computadores e Sistemas Brasileiros).
Para entender essa história completamente, primeiro é necessário voltar para o ano de 1968. Um grupo de pesquisadores do Departamento de Engenharia Elétrica teve acesso a um computador IBM 1620. O modelo já estava próximo do fim de sua vida útil pelos padrões da IBM, mas serviu de base para os estudiosos brasileiros. Nascia ali o Laboratório de Sistemas Digitais (LSD). Outras máquinas seriam adquiridas depois, com o mesmo objetivo: criar em solo brasileiro a expertise para a produção de componentes para computadores, assim como outros sistemas digitais, como osciloscópios, plotters e demais periféricos.
O Patinho Feio existe até hoje e a máquina em sua forma original ainda pode ser encontrada em exposição, protegida por um painel de vidro, no principal corredor de acesso à diretoria da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – USP.
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